quinta-feira, 5 de abril de 2012

Vereador Carlos Bolsonaro quer instituir Dia do Orgulho Hétero no Rio de Janeiro

Larine Flores - 3º Período - Jornalismo

Inspirado pelo projeto homônimo do vereador paulista Carlos Apolinário (DEM), Carlos Bolsonaro (PP), filho do polêmico Jair Bolsonaro, propôs na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro a instauração do Dia do Orgulho Hétero no município.
O vereador justificou a necessidade do dia para “conscientizar e estimular a população a resguardar a família, a moral, os bons costumes e os princípios cristãos” e apresentou a data, 15 de Maio, a fim de coincidir com o Dia Internacional da Família, instituído pela ONU em 1993.
Em sua justificativa para o projeto, Carlos assinala a comunidade homossexual como principal responsável pela dissolução da família e disseminação do vírus do HIV, provavelmente ignorando os reais fatores para a disseminação, que se iniciou na década de 80 e não era associada ao comportamento sexual.
Vale lembrar que o vírus, como é de conhecimento público, não determina critérios de contágio e, em muitos lugares, ainda conta com a ignorância como aliada. Podemos tomar como exemplo localidades mais afastadas na África, onde há a ideia que, tendo contato sexual com uma virgem, é possível livrar-se da doença. Tal crença contribui para o aumento do número de violência sexual e disseminação do vírus – lembrando que, no caso, a relação baseada na fé é sempre heterossexual.
De fato, quatro características marcaram a epidemia da Aids no Brasil: a pauperização, a interiorização, a feminilização e a juvenilização sendo, respectivamente, a disseminação em camadas mais pobres da sociedade, em áreas do interior do país, em mulheres infectadas e jovens com a doença. Hoje o aumento do número de idosos infectados também surpreende, tendo eles qualquer orientação sexual.
Além do contágio por contato íntimo, o vírus pode ser adquirido por compartilhamento de seringas, transfusões de sangue e passado de mãe para filho, o que prova cientificamente que homossexuais podem transmitir o HIV por via sexual, tanto quanto qualquer membro da sociedade com vida sexual ativa.
Afirmar também que a dissolução da família se dá pelo comportamento sexual não pode ser considerado um argumento, já que muitos casais se divorciam sem que haja envolvimento ou comportamento sexual.
Alguns dos argumentos apresentados contra o projeto questionam até que ponto a influência social molda o comportamento sexual de um indivíduo, exemplificando que, em uma sociedade onde um comportamento é obrigatoriamente derivado de um estímulo, um lar heterossexual jamais criaria um filho homossexual, o que logicamente não procede.
Carlos finaliza sua justificativa citando também o aumento da criminalidade que, segundo ele, acompanha o crescimento da comunidade homossexual e, confirmando sua opinião, afirma que “a melhor prevenção contra o HIV/AIDS é a orientação para uma cultura que valorize a família estável onde cada membro se preocupa com o bem-estar do outro e tanto mais forte será quando fundada no casamento entre homem e mulher”. .


O Povo Fala

O estudante de Jornalismo do UBM, Harrison Nebot, XX anos, acredita que as minorias só deixarão de ser marginalizadas quando ganharem voz e lutarem por seus direitos e espaço. Por isso, segundo ele, o Dia do Orgulho Heterossexual não tem base ideológica, “já que a maioria não é oprimida”. Quanto à acusação do vereador, Harrison argumenta “que o HIV é um vírus que se instala em humanos, sem distinção de cor, sexo ou raça e uma crença preconceituosa só mostra a  falta de embasamento do projeto”.

Também estudante de Jornalismo do UBM, Juliana Neves, 19 anos, acredita que o projeto anda na contramão dos movimentos sociais, que buscam espaço e respeito para as vítimas de preconceito e opressão na sociedade. O Dia do Orgulho Hétero, segundo ela, não vai a favor da família ou do combate ao vírus HIV, mas contra a comunidade homossexual que ainda é massacrada. Para Juliana, “é risível que se considere possível a opressão da maioria pela minoria e que ter um representante com tal pensamento só evidencia o preconceito de uma sociedade que, em grande parte, não sabe conviver com o diferente”.

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